quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Sete dias, hoje


Sete dias, hoje.

E o pensamento ainda continua embargado.

A discussão sobre a redução da maioridade penal já é um sinal de começo, pois é necessário distribuir responsabilidades da mesma forma que se concede mais direitos aos jovens. Apesar de que esta redução, será apenas um paliativo para o problema da violência. Afinal, a criminalidade só vem crescendo, também entre os maiores perante a lei.

A mobilização da sociedade carioca e brasileira é um ótimo indício de que se pode começar a discutir uma mudança de rumos para todos.

Por outro lado, os boçais insistem em transformar esta tragédia em luta de classes, com o argumento de que " o cidadão branco de classe média, que paga os seus impostos, está a mercê de animais desqualificados" ou ainda depreciar os direitos humanos e o Estatuto da criança e do adolescente, "cujo representante, não aparece quando a vítima não é carente, pobre ou marginal".

Há ainda os que defendem a pena de morte, o linchamento, ou a pena de Talião: simplesmente arrastar os culpados da barbárie pelo mesmo trajeto em que o menino foi arrastado para fazê-los pagar, segundo o dente por dente, olho por olho.

Na minha míope e modesta opinião, toda a sociedade está à mercê desta mesma violência, (e não apenas os cidadãos brancos, de classe média e que pagam impostos) e não em face de uma guerra de classes, mas de uma verdadeira guerra civil. Sim, uma guerra civil que está avultando gradualmente, como um câncer, tomando o corpo de nossa sociedade e apodrecendo-o.

Os direitos humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente são conquistas humanas de toda uma sociedade, e não apenas de uma classe. Pretender fazer parecer o contrário é o mais genuíno fascismo.

Não há pena, nem morte suficiente severa ou cruel que possa equiparar à que os assassinos infligiram ao menino. Pelo simples fato de que eles SABERÃO por qual motivo estarão sendo executados, ao contrário da criança, um inocente, que até o último instante, não sabia o porquê estava acontecendo aquilo consigo...

Desculpem, mas tudo isto estava engasgado. Os que me conhecem de perto, sabem que eu sou pai de três meninos. O caçula, tem a idade e o tipo físico de João Hélio. Só de pensar na dor dos pais e na crueldade com o menino, eu devo confessar que sinto uma dor insuportável, e tem sido difícil de dormir...

Escrevi quase uma dúzia de cartas, de consolo aos pais, que nunca consegui enviar. Contudo, no que pese a imensa dor em suas fisionomias, acredito que há mesmo uma boa orientação espiritualista que esteja fazendo com que eles se mantenham de pé e não desabem de vez. Qualquer um, no lugar deles, desabaria, sem alguma estrutura sólida para conseguir apoio.

Que toda esta tragédia não seja em vão, para todos nós...



Foto de cima: Nívea Souza/Terra
Foto de baixo: Ernesto Carriço/O Dia

19 comentários:

Anônimo disse...

Adão, Ainda acho que a diminuição da maioridade penal não é solução e que somente iremos transformar o horrendo quadro em nossa volta, se modificarmos a nossa sociedade e a nós mesmos.
As lágrimas ainda correm quando penso e falo sobre este assunto.

Bia

Anônimo disse...

Esta orientação espiritualista presente nos pais do menino é que faltou nos assassinos. Eles não tem Deus no coração!

Vera F. disse...

Adão, tenho atualizado o Verdes a duras penas, porque sei que amigos que diariamente entram lá. Além da obra, que praticamente acabou , minhas filhas ainda estão de férias. As aulas iniciam depois do carnavam, dia 22.
Sou contra pena de morte porque acho que ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. Diminuir a idade penal é só um palhativo. Enquanto não diminuir a exclusão social e a impunidade, acho que nada muda, infelizmente.

Bjos.

Tamara Queiroz disse...

Com certeza, eu não suportaria nem uma fisgada da dor que os pais e a irmã sentem.

Eu perderia o equilíbrio, o juízo. Toda a minha existência evaporaria.

Eu cederia, com certeza.

PS: Eu fico, profundamente, triste quando me recordo disto, imagine os mais envolvidos.

Anônimo disse...

Adão.

Resta muito pouco a dizer.
Há coisas que calam fundo e silenciam o peito.

Beijos.

Eliana Tavares disse...

Oi Adão, estamos todos muito abalados, não é mesmo? Mas, ainda assim, não creio que a redução da maioridade penal seja a solução. Um garoto de 12 anos matou a avó, está no globo de hoje. O que faremos? Reduzir a maioridade penal para 12 anos? Para cada criança criminosa que enfiarmos atrás das grades, deixamos que o desespero fabrique mais 10! Houve uma campanha publicitária que dizia: "Adote seu filho antes que um traficante o faça"! Pois é o que devemos cobrar insistentemente dos governos. Que protejam as nossas crianças antes que os bandidos as adotem! Uma criança que passa o dia inteiro na escola, estudando, alimentando-se, praticando esportes e aprendendo ofícios, estará tão cansada no final do dia que dificilmente terá disposição para ficar pelas ruas a mercê dos corruptores!
Precisamos cuidar das nossas crianças, como excelente alternativa às escolas de bandidos que são as nossas prisões!
Beijosssss
Eliana

Anônimo disse...

Oi Adão..
eu sou contra a pena de morte..e tbem olho por olho dente por dente...e tudo mais que contribua para a violencia..

Eu tenho minhas duvidas em relacao a reducao da maioridade penal, principalmente pelas condicoes dos presidios no BR. Eu duvido que alguem sai melhor de lá..ou achando que o futuro vai ser melhor.

A mudanca tem q acontecer..Se quisermos mudanca agora a coisa complica...mas a mudanca para o futuro a gente pode comecar a fazer agora....com certeza!!!!

O que alivia a minha dor em relacao á morte deste menino..e de tantas outras criancas é que nada acontece sem que Deus saiba...

Um bom feriado para vc..e noites melhores de sono...abracos

Anônimo disse...

Ainda continuo sem palavras sobre este assunto.Uma vergonha sem precedentes me assola.Vontade de dormir e acordar em outro lugar.Abraço grande e obrigada pela visita!

Tamara Queiroz disse...

Ei, Adão, cadê você? Eu vim aqui só prá te "lê"!

Saudade.

Anônimo disse...

Adão, eu ouvi uma campanha nas rádios sobre o assunto, que pergunta: "- nós não vamos fazer nada?"

Beijos saudosos!

Sheherazade disse...

Oi, Adão!
Estou de volta das férias no Rio, onde me encontrava quando aconteceu a tragédia que vitimou toda a família do menino João Hélio, hoje símbolo da violência urbana que tomou conta do nosso lindo e desprotegido país. Como ele, outras crianças de várias cidades do Brasil são barbarizadas e mortas, diariamente, por monstros, mirins ou não, também vítimas da violência e do descaso, consequências da miséria de um povo complacente e, portanto, conivente, porque sem noção de cidadania e respeito ao próximo. Até quando vamos permitir que isso continue ocorrendo, como meros espectadores? Cada vez que vejo pais clamando por justiça, vem-me a sensação de que devemos fazer alguma coisa, antes que sejamos, nós mesmos, os próximos protagonistas dessa triste novela sem fim. Não temos a cultura da exigência aos nossos direitos de cidadãos. Acomodamo-nos com o abuso dos impostos sem reclamar a sua competente aplicação em políticas públicas e, assim, criamos um círculo vicioso de obrigações sem retorno qualquer. Precisamos começar a agir! Chega de decantarmos a Esperança! Segundo o genial Chico Buarque, "Quem espera nunca alcança". A banalização com que se tratam as vidas humanas é assustadora. Chega dessa apatia!
Desculpa o desabafo, mas indignar-se é preciso.
Agradeço a sua visita ao meu blog, que está temporariamente inativo por absoluto vazio de idéias, diante de tão terríveis constatações.

Tenha uma ótima semana!

Anônimo disse...

Adão,
Passei para dizer que estou com saudades... e desejar que toda a nossa INDGNAÇÃO se transforme em AÇÃO, por uma sociedade mais humana...
é isso...

beijo

Vera F. disse...

Adão, depois de uma semana sem postar, estou voltando.
Saudades de vc.

Bjos.

Anônimo disse...

Ter amigos por perto nesta data fará com o que o dia seja completo.
Folhas secas de um Outono feliz da vida.

Tamara Queiroz disse...

Flehr (puxa, nunca acerto o seu sobrenome)???

Saudade dos seus posts.

Volte logo!

B-joletas.

KahSilva disse...

Bom encontrar seu blog,grata surpresa!Gostei dos teus escritos!Eu sou contra a pena de morte, mas mesmo assim tive impetos de pegar os responsáveis por esse episódio e ir cortando aos pouquinhos, para que pudessem sentir muita dor, como eles infligiram ao menino.será que eles tem noção da crueldade que fizeram?Sem mais para o momento.Apenas indignação.Lindo restinho de semana prá você!!!

Anônimo disse...

Adão, acho que estou com seu nr. antigo. Liga para mim.

beijos,

Anônimo disse...

A audiência reclama atualização e manda beijo pros pimpolhos.

Anônimo disse...

Concordo com os protestos! Saudades de você!

beijo

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