domingo, 30 de janeiro de 2011

Quanto a mim...

Endless Love, Alfred Gockel


Quanto a mim que presenciei o gênese e o apocalipse
vi o fogo rasgar os céus para moldar o início
e o fim
vi a terra de outro plano em infinito azul,
inventei a cura para tantos males

Quanto a mim que recebi a graça divina e falei em línguas
construí cidades, forjei civilizações
ofereci meu corpo aos leões
e fui enterrado todos os dias


Quanto a mim que um dia fui condecorado e noutro proscrito
Vi rasgarem minhas vestes e fui lançado às chamas
Vi meu corpo vazado em lanças
e venerado como santo,
fui canonizado

Quanto a mim que cri, descri e fui batizado na beira do rio
larguei bens e família e fundei minha própria seita
eu que construí mísseis e plantei jardins
amei desconhecidos e matei irmãos

Quanto a mim que traí por setenta moedas
e aniquilei mais de setenta milhões
multipliquei pães e distribui peixes
abri mares e curei os leprosos

Quanto a mim que atravessei tantos oceanos,
subi planaltos e desci planícies
pisei na lua, risquei o sol
e sobrevivi em locais inimagináveis

Quanto a mim que já provei de tantos sabores
senti todas as dores humanas
e alegrias divinas
bebi do meu próprio sangue,
destilei lascívia e veneno,
quebrei copos de cristal

executei inocentes
redimi culpados
perdoei ladrões
fui crucificado
e ressuscitei no terceiro dia

Quanto a mim, posso assegurar
que não há nada mais
profano e divino
doce e amargo
doloroso e prazeroso
sereno e assustador
suave e tempestuoso
terno e avassalador



do que estar apaixonado...
.
..



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