quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Também já fui brasileiro

Nesta tarde agreste, com o coração vazio de tudo e pleno de nada, recorro aos meus escritores favoritos em busca de alguma tradução interior.

ELE, e sempre ELE, consegue como ninguém traduzir estes sentimentos. Melhor que eu próprio, é claro. Segue abaixo um pequeno tributo ao meu bruxo predileto, e, logo após, a sua perfeita tradução para este momento.

p.s. As eleições estão aí. Você como eu, também já foi brasileiro?

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Quando eu era criança
e meu coração sentia e queria
como criança
a poesia era coisa natural
e brincávamos com alegria
-eu e a poesia -
todos os dias em meu quintal...

Então eu cresci e me esqueci
de ser criança e da poesia...

Quando homem feito,
li pela primeira vez Quintana
eu já a conhecia...

Quando homem feito,
li pela primeira vez Vinícius
eu já a conhecia...

Pois foi bem antes,
ainda moço, quando eu li Drummond pela primeira vez
que então eu as resgatei
de uma ignorada nostalgia,
a criança e a poesia...

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Eu também já fui brasileiro

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não. (Carlos Drummond de Andrade)

9 comentários:

Anônimo disse...

Adão,
Incontestavelmente, este é o trio de ouro da poesia do Brasil: Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.

Um abraço,

Anônimo disse...

eu gosto de Vinícius, gosto de Quintanta e de Drummond!!!! e gosto também de você!!!!!
beijinhos

Léa

Anônimo disse...

Adão!!!!
Conheci o Drummond ainda menina, nos livros escolares. Ele nunca mais saiu do meu coração!!!!

Beijos,
Cris

Anônimo disse...

Eu lembro que quando o Drummond morreu eu chorei bastante e li em algum lugar: a poesia agora é imortal.

Beijos,

Bia

Anônimo disse...

Adão.

Meu coração também bate em Itabira.
O texto de Drummond que mais me marcou foi declamado (declamado mesmo) em sala de aula por um professor de literatura que me mostrou um mundo além do que eu acreditava existir.
Pra você, o texto da minha adolêscência e do meu hoje:

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos,
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
Não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro
e medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade

Anônimo disse...

Que coisa mais engraçada.
Parece que comentamos *ao mesmo tempo* um no blog do outro.
Coincidências existem?
:)

Tamara Queiroz disse...

Eu ainda estou na fase de ser brasileiro. De ser brasileirinha!


..........
Nos últimos acontecimentos tenho preferido calar do que amar, isso me lembra Drummond.

Anônimo disse...

CARA,
QUE TODDAS AS PEDRAS DO CAMINHO SE TRANSFORME EM POEIRA! PARA QUE NÓS BRASILEIROS ALCANCEMOS NOSSOS OBJETIVOS!

ABRAÇO,
CLÁUDIO

Cristiano Contreiras disse...

Drummond sempre me define!

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