sábado, 27 de maio de 2006

Soneto da inspiração

Eu fiquei de cama, adoentado, por uma semana, como já contei aqui. Para abrandar este período, ganhei uma antologia poética de Vinícius de Moraes. A leitura do poetinha rendeu pouco mais de meia dúzia de textos, entre sonetos e elegias, dos quais "Esta manhã" e "Soneto de inspiração" fazem parte.

Queda a chuva do céu distante e vem molhar meus versos pobres
um a um todos se rebelam e não dizem mais o mesmo que antes:
abortes o texto, jogues o papel, amasses, rasgues ou mesmo dobres
recolhas as velas, invertas o curso, desta nau em que és navegante!

Sibila uma suave voz aos meus ouvidos: querido, baixes a pena!
pois que não há marias nem helenas e a musa é essencial
o tempo é rude, o corpo frágil, a carne é fraca e a alma serena
pois que não há batalhas nem novenas e a causa é capital

saias da chuva, recorras ao abrigo e retornes outra hora
vejas: a fonte está seca, procures a nascente, do rio, o leito
revolvas tuas entranhas, furtes um suspiro e respondas sem demora:

presentemente, nenhuma fogueira arde em teu peito?
pegues a pena, derrames no papel as palavras que jorram agora
de fonte recôndita que sempre esteve aí, no mesmo lugar, eu suspeito...

3 comentários:

Tamara Queiroz disse...

Adão,

quero agradecer às suas palavras. Isso me contenta muito e me faz pensar se é realmente verdade tudo o que dizes.

"presentemente, nenhuma fogueira arde em teu peito?
pegues a pena, derrames no papel as palavras que jorram agora
de fonte recôndita que sempre esteve aí, no mesmo lugar, eu suspeito..."

SEMPRE espalhe, derrame, jorre suas palavras para que possamos colhê-las.

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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