segunda-feira, 27 de março de 2006

Afeto mútuo

Voltando uma vez mais ao assunto do último post, o documentário sobre o envolvimento de crianças no crime, vale destacar mais uma observação: para todos os entrevistados, a figura paterna assumia duas vertentes: ou era um ponto de interrogação, ou objeto de revolta. Percebem alguma relação? Pois é... Aproveitando o ensejo, apresento esta pequena estória que fala da força do afeto mútuo entre pais e filhos. Para refletir, nas crianças do documentário e nos nossos próprios relacionamentos.

“Eram uma pequena família recém-formada, viviam sem luxo nem ostentação, mas levavam uma vida simples e com conforto, o jovem casal e seu filho de 5 anos, Paulo.
O menino era a coroa angelical de sua união e parecia já ter nascido com 12 anos, tal a sua inteligência e sensibilidade. Espiritualizados, a família fazias as suas preces às refeições e, ao deitar, particularmente pai e filho faziam suas preces juntos. O menino sempre convidava:
- Vamos pai, eu peço pro papai do céu por você e você pede por mim, ta bom?
E invariavelmente, seguiam toda a noite este pequeno ritual. Quando terminavam, desejavam-se boa noite e o menino perguntava:
-Vamos cuidar um do outro assim para sempre, tá pai?
O tempo passou e logo ao chegar à adolescência, Paulo perdeu o seu pai querido, contudo nunca abandonou aquele pequeno ritual de ambos, misto de oração com afeto mútuo.
A vida seguiu para Paulo, com todos os seus obstáculos característicos: o vestibular, o primeiro emprego, a descoberta do amor, o casamento, a chegada do primeiro rebento. Chamou-o de Estevão.
Porém Paulo não logrou a mesma harmonia conjugal que seu pai e após poucos anos, seu casamento se desfez, afastando-o de Estevão.
Refez sua vida, casou-se novamente, teve outro filho, distanciando-se cada vez do primogênito. Quando Estevão chegou à adolescência, as drogas já haviam o adotado como filho ilegítimo, fruto da frustração com a dor. Já na maioridade, chegou ao fundo do poço, após ter sido preso ao furtar para sustentar seu vício. No cárcere, recebeu a visita do pai, que não o via há anos. Em princípio a revolta de Estevão duelava com o arrependimento de Paulo. Após algum tempo, depuseram as armas, e largaram-se num choro longo e redentor. Resumiram suas vidas juntos, e para surpresa de Paulo, seu filho o interpelou assim:
-...Tudo o que eu queria era que estivéssemos juntos todo este tempo, cuidando um do outro. Em minhas preces, desde pequeno, eu sempre pedi por você.
Paulo ficou petrificado. Em rápidos instantes, compreendeu a extensão de seus erros. E prometendo a si mesmo ajudar ao seu filho a sair do buraco onde estava, reerguendo-o e a nunca mais distanciar-se dele. Paulo respondeu:
-Eu também sempre pedi por você... mas estava longe demais para merecer algum crédito... e realizar algo por ti...”

3 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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