Fagulha: [Do latim *facucula, diminutivo de facula, que por sua vez é diminutivo de fax, ‘archote’; archote: Facho breado que se acende para iluminar...]
No penúltimo dia do penúltimo mês do ano que passou, cerca de 25 pessoas voltavam aos seus lares após um dia de trabalho, em um ônibus que trafegava por um dos bairros de subúrbio do Rio de Janeiro. O veículo parou em um dos inúmeros pontos de seu trajeto, depois de solicitado por 4 adolescentes. Estes adolescentes eram as iscas para que um bando de cerca de 10 malfeitores tomassem o ônibus. Eles entraram no ônibus, jogaram gasolina no interior do veículo, saíram, atearam o fogo e lacraram as portas para que os ocupantes fossem queimados vivos.
14 pessoas saíram feridas e 5 sem vida. Dentre estes últimos, uma mãe e sua filha, uma criança de 13 meses.
A motivação do crime teria sido a vingança pela morte de 1 dos integrantes de sua quadrilha.
O estado do Rio de Janeiro tem mais de 15.000.000 de moradores, todos transformados em reféns do medo.
Fatos.
Conceito: trata-se da banalização do mal.
Entre a desfaçatez dos políticos e a morna indignação da população fluminense, fica uma pergunta: chegamos ao final do poço? Acredito que não. Outra pergunta: para onde estamos indo? Alguém ousa uma resposta?
A falência múltipla de uma sociedade começa de forma análoga a do corpo humano. Basta uma pequena pré-disposição e um pequeno tumor é formado. E se não for tratado a tempo...
Começa com a localização dos escravos recém-libertados no final do século 19, à margem das áreas urbanas... A criação da primeira favela, no morro da Favela (de onde foi originado o nome) depois, Providência.
Começa concomitantemente, com a segregação da população rural às necessidades básicas de sobrevivência, à margem da fartura progressista do começo do século 20 dos latifundiários oligárquicos, forçando a retirada desta população para as grandes cidades.
Passa, em quatro décadas sucessivas, por governos infelizes, ditatoriais, fascistas e demagógicos que jogaram propositalmente gerações inteiras nas trevas da ignorância cultural, social e política.
Passa também, no começo dos anos 80, por um processo de soerguimento fictício, em que heróis e anti-heróis de segunda utilizando-se de artifícios de terceira, disputaram sofregamente o poder, visando usá-lo em benefício próprio, tratando a população como idiotas de primeira.
Continua com a imolação de um índio em plena capital do País, a chacina de mendigos aos pés de uma igreja no Rio, a execução em massa numa penitenciária em São Paulo, a execução coletiva numa favela carioca... e o ataque brutal ao ônibus e seus passageiros, ainda na “cidade maravilhosa”.
Os cínicos ponderarão: a violência e a barbaridade são males globais. Estão corretos. Mas a questão é outra. Se não conseguirmos arrumar a nossa casa, como podemos falar da casa do vizinho? Se não resolvermos nossas mazelas, como culpar o imperialismo americano, o racismo europeu, o fanatismo mulçumano, a estupidez de árabes e judeus, a impessoalidade chinesa?? Além do mais, o âmago da questão não está nos governantes e dirigentes do País, nem nos artistas e formadores de opinião. Nem no presidente de sua empresa, no reitor de sua faculdade, tampouco no síndico de seu prédio. Como em um texto veiculado pela Internet , creditado ao João Ubaldo Ribeiro, o cerne do problema é você. E eu.
Os céticos acham demasiadamente simplória e maniqueísta a divisão entre bem e mal. Eu não acho. As vítimas do ônibus também não. As crianças, hoje em dia já tem a noção, recebida pelos pais ou por inspiração divina, do bem e do mal. Aquele professor da escola que ensina com paciência, ele é do bem. Aquele personagem do filme que prejudicou o mocinho é do mal.
Contudo, não há como negar que o mal tem um departamento de marketing muito melhor estruturado do que o bem . Cabe a cada um de nós virar este jogo, a começar pelo modo como interagimos com o próximo, com nossos filhos, netos, pais, avós, amigos, cônjuges, colegas, empregados, patrões, governantes, pedintes, companheiros, adversários.
No filme “Corrente do bem (Pay it Forward)” é proposta uma espécie de corrente em que um indivíduo se compromete a fazer o bem para outros três indivíduos e assim sucessivamente. A premissa é que encandeado por sucessivas ações, o bem retorna àquele que o praticou inicialmente. Simplório e maniqueísta, não? Cheguei a ler uma crítica em que a autora gracejou: “...cheguei a ter vontade de levar um sem-terra para o meu apartamento...” Contudo, esquecendo da questionável qualidade técnica do filme, para nos atermos somente à sua premissa, é exatamente por este processo simplório que o mal se irradia. Pense nisto. A cada reação negativa a algo desagradável praticado por nossos semelhantes, que nos tenha magoado, estamos sendo receptores e emissores do mal.
O antídoto está em fecharmos o nosso sinal de captação do mal e passarmos a transmitir somente o bem, em ondas curtas, médias e longas. Se a grosseria do balconista não conseguir te atingir, por sua vez, você não irá reagir. Se uma nação não se sentir ameaçada, atingida por outra nação, não haverá motivos para a guerra.
Se exemplificarmos o amor para nossos filhos dentro de nossa casa, eles crescerão voltados para o amor. Se os desprovidos de amor , teto ou pão se sentirem amparados de alguma forma por mais e mais voluntários, estes cidadãos do bem, eles sentirão menos revolta e repúdio à sociedade que tem bem mais do que eles.
Se promovermos o bem com o mesmo entusiasmo e glamour que é promovido o mal em todos os setores de nossa sociedade, estaremos começando de fato um novo período. Como uma fagulha na escuridão é precursora da luz, seremos milhares de pontos de luz em toda a terra, perolizando o nosso planeta no espaço. Entraremos de fato, em um novo milênio. Começaremos uma nova página na história da humanidade. Disto falou Jesus e os profetas. Moisés e Maomé. Buda e Confúcio. Contudo, mais do que pelo aspecto religioso e místico, apelo ao aspecto racional. Pense nisto. Você pode até me achar simplório e inocente. Mas eu realmente acredito que somente desta forma nós começaremos efetivamente, um novo mundo. Simplório e inocente, não? Como um sorriso de uma criança de 13 meses.
domingo, 1 de janeiro de 2006
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4 comentários:
Adão.
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Teu texto é profundo.
Abraços, flores, estrelas...
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